Passar horas seguidas desempenhando uma atividade, seja no escritório ou no home office, de forma inadequada pode gerar consequências físicas e mentais negativas ao colaborador. Elas podem ser das mais simples, como um leve estresse, às mais graves, como as Lesões de Esforços Repetitivos (LER). Para evitar esse tipo de problema, a ergonomia no trabalho é uma prática fundamental.

Empresas que se preocupam com o bem-estar de seus colaboradores e de que maneira isso afeta os resultados do negócio, estão cada vez mais atentas às formas de oferecer boas condições de trabalho. Inclusive, segundo pesquisas, as organizações que investem em ergonomia no trabalho são 264% mais produtivas e lucrativas. Ou seja, além de ser uma medida obrigatória por lei, a ergonomia é realmente importante e ajuda os dois lados envolvidos na relação empregatícia: a  empresa e o colaborador. Por isso, neste conteúdo, eu irei explicar melhor o que é essa prática, o que a lei diz sobre ela e como investir nessa iniciativa em seu escritório. 

Vamos lá?

O que é ergonomia no trabalho?

A ergonomia no trabalho é uma iniciativa que tem como objetivo estabelecer boas práticas e condições de trabalho que possam favorecer a saúde do colaborador durante a execução de suas atividades na empresa. Ou seja, a ideia é que seus esforços em prol do negócio, não gerem nenhum impacto negativo a saúde física e mental dos funcionários. Por exemplo, se o seu colaborador passa 8 horas dentro do escritório, sentado em frente ao computador, a ergonomia no trabalho tem como objetivo encontrar soluções capazes de minimizar ao máximo qualquer consequência que esse cenário possa gerar à saúde dele, como:

• Lesão por Esforço Repetitivo (LER)
• Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORTs)
• Doenças psicossociais

Assim, o papel da ergonomia no trabalho é exatamente esse, gerar soluções ideais para cada situação na qual o colaborador se encontra. Para fazer isso de maneira eficiente, a prática é dividida em três áreas: física, organizacional e cognitiva.

Vamos entender melhor cada uma delas:

Física

A ergonomia no trabalho ligada a parte física, se preocupa com questões relacionadas ao espaço da empresa, contemplando desde a qualidade dos equipamentos utilizados até a postura corporal do colaborador.

Alguns itens ligados à ergonomia física são:

• Ar condicionado;
• Iluminação;
• Condições sanitárias;
• Mobília e equipamentos (por exemplo, se há necessidade de adquirir equipamentos, como cadeiras ergonômicas ou suporte para computador e pés);
• Organização do ambiente;

Organizacional

Já a ergonomia no trabalho do campo organizacional, observa o modus operandi do escritório com a intenção de melhorar os processos internos que podem oferecer riscos à saúde do colaborador. 

Alguns exemplos são: 

• Rotina de trabalho: Colaborador sentado a maior por muito tempo em frente a um computador, o que pode gerar dor nas costas, problemas de visão e até complicações mais graves, como hérnia de disco e varizes;
• Trabalho exaustivo e repetitivo: Pode propiciar o desenvolvimento de lesões por esforço repetitivo (LER);
• Quantidade insuficiente de colaboradores frente ao alto volume de demanda: Ação que colabora com a aplicação de jornadas muito longas e exaustivas, física e mentalmente;

Cognitiva

A ergonomia no trabalho ligada a área cognitiva, por sua vez, observa aspectos relacionados à saúde mental do colaborador. O objetivo éadotar medidas de combate ao estresse e à ansiedade que podem causar ou agravar diversos males, interferindo negativamente na produtividade e, a médio prazo, na carreira desse profissional. 

Alguns exemplos de situações observadas nessa área da ergonomia são:

• Cobrança excessiva em relação ao tempo;
• Falta de treinamento;
• Ausência de abertura para o diálogo (colaborador não se sente à vontade para se comunicar com seus líderes);
• Ambiente de trabalho tóxico e muito competitivo;
• Falta de transparência, causando ansiedade.

Qual a lei que regulamenta a ergonomia no trabalho?

A lei que regulamenta e fiscaliza a ergonomia no trabalho é conhecida por NR17 e é uma norma criada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) em 1978 e aprovada pela Portaria MTB nº 3.214/1978. Em linhas gerais, ela é aplicável a toda atividade laboral e determina uma série de diretrizes quanto à ergonomia no trabalho, como:

• 17.3.2: Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação.
• 17.3.3: Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; c) borda frontal arredondada; 
• 17.4.7: Os superiores hierárquicos diretos dos trabalhadores devem ser orientados para buscar no exercício de suas atividades: a) facilitar a compreensão das atribuições e responsabilidades de cada função; b) manter aberto o diálogo de modo que os trabalhadores possam sanar dúvidas quanto ao exercício de suas atividades; c) facilitar o trabalho em equipe; d) estimular tratamento justo e respeitoso nas relações pessoais no ambiente de trabalho.

Assim como as outras NRs, o cumprimento dessas diretrizes é essencial para garantir o bem-estar, a segurança, a saúde e a qualidade de vida no ambiente de trabalho. Para que você tenha uma ideia, segundo dados da Secretaria da Previdência, do Ministério da Economia, em 2019 houveram mais de 193,6 mil afastamentos relacionados a doenças ocupacionais no Brasil. Além disso, de acordo com o Conjur, devido ao aumento dos casos de Burnout, a 72ª Assembleia Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou a síndrome uma doença ocupacional

Por isso, além de muito importante, a NR17 é uma das normas mais fiscalizadas pelo MTPS e seu descumprimento pode gerar graves consequências gravíssimas. 

Quais as consequência do descumprimento da norma regulamentadora referente a ergonomia no trabalho?

O descumprimento da NR17, norma que regulamenta a ergonomia no trabalho, é prejudicial tanto para o seu escritório quanto para o colaborador. Por isso, é fundamental estar atento.

Para você, a lei prevê que, após identificada a irregularidade, o MTPS envia uma notificação para o seu escritório e garante 60 dias para que corrija a mesma. Caso o problema não seja resolvido, o escritório recebe uma multa que pode variar de R$764,00 a R$20.000,00. Se o problema persistir, é aberto um passivo trabalhista, gerando outras consequências, como:

• Ações reclamatórias e ações civis públicas;

• Pagamento de despesas com tratamentos médicos;

• Indenização 

• Se o descumprimento gerar risco ou perigo de morte ou à saúde do trabalhador, responderá pelo Crime de Perigo (artigo 132 do Código Penal);

Já para o colaborador, o não cumprimento da NR17 pode gerar advertências e, em casos mais graves, a demissão por justa causa.

Por isso, é importante que não apenas o seu escritório se preocupe e cumpra essas diretrizes, mas também que implemente ações para mobilizar seus colaboradores em torno desse objetivo, especialmente quando a supervisão direta é interrompida, como é o caso do home office, por exemplo. 

Como investir em ergonomia no trabalho em seu escritório?

Agora que você está afiado quanto ao assunto, vamos ver como aplicar a prática da ergonomia no trabalho em seu escritório. 

Basicamente, o que eu irei mostrar aqui é a pré-análise que a própria NR17 orienta que você faça antes de começar as movimentações de compra de equipamentos, entre outras coisas. Afinal, para que você saiba exatamente quais tipos de ergonomia seu escritório precisa, esse processo é mandatório. 

Dito isso, vamos ao passo a passo:

1- Faça a análise ergonômica do trabalho (AET)

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é um documento muito importante para a implantação de medidas para melhorar a ergonomia no trabalho. Isso porque, por meio dele, podem ser identificadas todas as inadequações existentes em seu escritório, em relação às atividades que são desempenhadas por seus colaboradores.

De acordo com os parâmetros que definem a AET e constam na NR17, esse documento deve apresentar detalhes, como:

• Descrição das características do ambiente trabalho (móveis, ferramentas, espaço físico e condições de movimentação);
• Avaliação da organização do trabalho, incluindo o tempo das tarefas, as variações diárias, semanais e mensais da carga de trabalho, as pausas entre os ciclos produtivos, entre outros;
• Relatórios de satisfação e clima organizacional;
• Registro das impressões e sugestões dos colaboradores em relação às condições desse ambiente.

Por isso, esse deve ser o seu primeiro passo em direção a ergonomia no trabalho. Uma dica é conseguir aliados para ajudá-lo na criação desse documento, como a pessoa responsável pelo RH e os gestores responsáveis pelos departamentos do seu escritório. Assim, além de diferentes perspectivas do problema, você consegue uma visão macro do ambiente de trabalho e conclui o processo com muito mais agilidade. Sem contar que seus gestores já devem conhecer algumas das maiores reclamações dos colaboradores quanto a ergonomia, o que também ajuda. 

2- Plano de ação

Adotar um plano de ação é o segundo passo para implementar a ergonomia no trabalho. Aqui, você deve estabelecer cada etapa do projeto, mostrando onde e como serão aplicadas as melhorias. 

Uma boa ferramenta para usar é a 5W3H, que consiste em elaborar uma tabela capaz de mapear as questões referentes às atividades que você deseja adotar neste projeto. O nome refere-se a 9 perguntas: What, Why, Where, When, Who, How, How much e How many , que em porttugues significam: o quê, porquê, onde, quando, quem, como, quanto e quantos.

Assim, para colocar a ergonomia no trabalho em prática, você pode aplicar o 5W3H da seguinte forma:

• Qual carência esse projeto busca solucionar?
• Por que essa ação é uma boa ideia?
• Onde, como e quando será implantada?
• Quando será implementada?
• Quem será responsável? Quais serão os envolvidos?
• Como será colocada em prática?
• Quanto custará ao escritório?
• Quantos elementos físicos estão envolvidos?

Isso ajuda você a dimensionar melhor suas ações e se preparar para as mudanças de maneira mais eficiente. 

3- Comece com o que é mais urgente

Pode ser que leve um tempo até que você ajuste tudo o que precisa em relação a ergonomia no trabalho dentro do seu escritório, portanto, procure começar com o que é mais urgente. 

Em sua avaliação, pode ser que você tenha encontrado algo que foi muito relevante para os colaboradores e se mostrou um problema realmente grande para eles, então porque não começar ajustando isso? 

Além disso, existem algumas questões que a própria NR17 considera prioritárias. Então, enquanto você não pode colocar tudo em ação, apostar nos exemplos abaixo já é uma ótima mudança ergonômica, veja: 

• Cadeiras e assentos confortáveis que facilite o posicionamento da coluna, pescoço e braços do colaborador;
• Suporte para monitor que o coloque na altura dos olhos, de modo que a região do pescoço não fique tensa. E sempre a 45 centímetros de distância dos olhos;
• Opção de trabalho remoto para reduzir o cansaço e estresse; 
• Espaços e períodos de descompressão;
• Programas de saúde mental como terapia online, entre outros;

Pronto para começar?

Espero que esse artigo tenha ajudado você a entender como é importante cuidar da ergonomia dentro do seu escritório e o quanto essa ação pode trazer resultados positivos. 

Antes de concluirmos, vale mencionar que, tão importante quanto aplicar a ergonomia em seu escritório é conscientizar seus colaboradores sobre a importância dessa ciência. Por isso, invista em ações que ajudem a propagar essa cultura pelo seu escritório, como:

• Realize palestras para seus colaboradores, contando um pouco sobre os benefícios e a importância da ergonomia na empresa;
• Incentive a prática de ginástica laboral;
• Crie um documento com a norma regulamentadora NR17, encaminhe a todos os colaboradores e depois marque uma reunião para que discutam pontos que não ficaram claros;
• Compartilhe em seus canais de comunicação interna artes criativas sobre as doenças ocupacionais, por que elas acontecem e como evitá-las;
• Aplique treinamentos sobre os fatores de risco das doenças ocupacionais, como posturas benéficas e maléficas. 

Assim, você pode levar informação aos seus colaboradores, estejam eles presenciais ou home office, disseminando a cultura da ergonomia no trabalho por todo o escritório. Agora é com você!

Até o próximo conteúdo!